quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A FALHA LÓGICA


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"A falha lógica nestas hipotéticas construções de acontecimentos futuros é sempre a mesma: o que primeiro aparece como uma hipótese - com ou sem as suas alternativas implícitas, de acordo com o nível de sofisticação - torna-se imediatamente, por norma alguns parágrafos depois, num 'facto', que então faz nascer  toda uma corrente de não-factos similares, com o resultado de que o carácter puramente especulativo é esquecido."

Hannah Arendt



Tudo, afinal, assenta no 'carácter especulativo', mais ou menos implícito, seja no domínio da matemática, seja no do 'bom-senso', mas a origem da especulação é tão longínqua que passou a confundir-se com a natureza das coisas.

São os problemas, práticos ou teóricos, que nos levam a rever aquilo que considerávamos natural. Não é outra coisa o que ensina Karl Popper quando fala na incerteza de todo o pensamento e quando diz que, na ciência, nada é adquirido.

Mas é evidente que a política tem outras necessidades, mais urgentes, que não se compadecem com o processo científico nem com o estatuto de incerteza do que consideramos verdadeiro.

É preciso pois abdicar da 'ética' científica e afastar com um gesto decidido o enxame das dúvidas e ereger os 'não-factos' em palavra 'divina'. Os sacerdotes desta milagrosa conversão são os economistas que libertam os políticos dos últimos escrúpulos.

Se A passou a ser Não-A, passados alguns dias ou algumas horas, o problema tem sempre uma explicação lógica, porque se pode provar tudo, desde que abdiquemos dos factos.


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