Alegadamente contra a hipocrisia do cinema de autor e conforme o espírito do movimento Dogma 95, o filme de Lars Von Trier (LVT) "Os Idiotas" (1998) não está assinado.
Além disso, é tosco, filmado com a câmara ao ombro, pelo próprio Lars, muitas vezes, e desrespeitando as regras da dramaturgia essenciais. O resultado é uma obra um tanto indigesta e desagradável ao olhar e que obriga o espectador a coser o que deliberadamente foi descosido. O sentido do filme depende, assim, de uma satisfatória reconstituição do puzzle formal com que LVT, por amor da "espontaneidade", complicou o seu trabalho.
A comunidade de idiotas voluntários, cada um à descoberta do seu "idiota interior", é vista pelo olhar de Karen, uma mulher que fugiu de casa e que, ao princípio, encara com cepticismo a terapêutica do grupo e questiona a ética das suas representações, no papel de falsos doentes mentais, junto da população.
O grupo acaba por não sobreviver aos seus conflitos internos, e Karen, que ensaia um regresso à sua família, mas comportando-se à mesa como um idiota doutrinado ( o que lhe vale uma bofetada do marido ), acaba por concluir que já não pode ter uma vida normal.
LVT talvez nos tenha mostrado que a sociedade dita normal se comporta hipocritamente com os seus doentes mentais, mas o seu parti pris de simpatia para com um grupo duas vezes hipócrita tira, de certo modo, todo o sentido à sua denúncia.
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