sexta-feira, 12 de outubro de 2007

CONTO DE INVERNO


"Conto de Inverno" (1992-Eric Rohmer)


O Inverno é tempo de fé e de esperança. Quando se acredita que há-de vir o bom tempo e o sol da alegria física, quando se espera que o que nasceu ou foi semeado cresça e se faça homem ou árvore.

É o que nos diz o "Conto de Inverno", de Eric Rohmer. E, como se não bastasse a tradição natalícia, há no meio do filme uma cena da peça de Shakespeare com o mesmo nome, em que os mortos ressuscitam e os que desapareceram comparecem junto daqueles que viveram para isso.

Félicie conhece Charles durante umas férias e é o amor louco. Mas no regresso (ele vai emigrar para os EUA, e ela voltar a Paris), dá-se o inacreditável: ela engana-se ao indicar a sua morada. Lapso freudiano.

A acção transfere-se para 5 anos depois. Ela tem uma filha de Charles que nunca mais voltou a ver. Entretanto, conhece outros homens que ama, mas não o suficiente para viver com eles.

Toda a sua felicidade está em amar uma realidade ausente, mesmo se são escassas as hipóteses de se reencontrarem.

Já se adivinhou, porque este é o tempo dos contos, em que sempre acontecem coisas maravilhosas, que tanta fé e esperança são, no final, recompensadas, pois, um dia, se sentam em frente um do outro, por acaso, num autocarro.

Rohmer tem que nos dar, em poucos minutos, na introdução da história, a imagem da intensidade desse amor de verão, e escolhe para tanto uma montagem semelhante à de um vídeo-clipe, com cenas de amor sucedendo-se umas às outras, ao ritmo exaltante da música.

Esse recurso diz bem da impossibilidade de se contar a felicidade. Cai-se inevitavelmente no estereótipo. Uma fotografia, por exemplo, torna-se um buraco negro que absorve todo o sentido.

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