"O Construtor Solness"
O simbolismo está datado, e é isso que mais choca na peça de Ibsen que a "Cornucópia" levou à cena.
A figura de Hilde (Beatriz Batarda) é a juventude de Solness (Luís Miguel Cintra) ou a sua própria morte, pela negação do tempo. Por isso Solness se defende dela, contra-atacando a actual juventude dos outros. É injusto para com o seu empregado Ragnar e atravessa-se no caminho da sua felicidade.
Mas não adianta resistir ao destino. Hilde desce da montanha para lhe lembrar o melhor de si próprio que jaz debaixo de anos de auto-tortura e sentimentos de culpa. A ideia de que todo o êxito mundano se paga com a morte do ideal. O sucesso profissional de Solness coincide com o incêndio que destruiu a casa da família de Aline, a sua mulher, e com a morte dos seus filhos gémeos.
Hilde convence-o a subir ao alto da torre que acaba de construir e a colocar ali uma coroa, como fizera há dez anos. Solness precipita-se, depois de cometida essa façanha.
Não estamos habituados a ver as ideias conviverem como personagens entre as demais.
Mas a psicologia está lá, sem uma falta.
Contra o senso-comum, um velho que se recusa a envelhecer faz uma espécie de pacto com a morte. Em troca de um último momento de glória, abandona-lhe o resto dos seus tristes dias.
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