sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A VENDA DA JUSTIÇA

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"(...) do mesmo modo a balança na mão de Zeus, símbolo da Justiça em todo o mundo patriarcal, recorda simplesmente a natureza. A passagem do caos à civilização, em que as condições naturais são mediatizadas pela consciência humana e não exercem por isso directamente o seu poder, em nada modificou o princípio da equivalência. Mais ainda, os homens expiaram justamente esta passagem venerando aquilo a que, como todas as outras criaturas, estavam sujeitos. Outrora, os fetiches eram submetidos à lei da equivalência. A partir de agora é a equivalência que se torna um fetiche. A venda nos olhos da Justiça não significa apenas que não se deve intervir na justiça, mas que a justiça não nasce da liberdade."

"La dialectique de la Raison" (Max Horkheimer e Theodor Adorno)

Na imagem tradicional da Justiça, esta não deve olhar a quê, nem a quem (tudo o que seria um comportamento estúpido, se tivéssemos que tomar uma decisão de que resultassem consequências para nós ou para os outros). Mas essa imagem é de outra maneira que está certa: a balança traduz o ideal da objectividade, em que os crimes e as injustiças pudessem encontrar uma equivalência automática nas penas.

Este ideal só é razoável porque o juiz não pode avaliar o caso humano na sua verdade.

Por isso, é, realmente, como se a Justiça fosse cega por necessidade.

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