terça-feira, 12 de setembro de 2017

O GRANDE SALTO

Andy Warhol's view of Mao Tse Tung


"Mao redesenhou pessoalmente as técnicas da agricultura chinesa, especificando a plantação mais cerrada e a sementeira mais profunda para aumentar a produção. O arroz plantado tão junto não podia crescer, mas os funcionários do partido, ansiosos por agradar a Mao, encenaram exposições do sucesso agrícola e industrial. Quando Mao viajava de comboio para admirar os frutos da sua política, os funcionários locais construíram fornos em faixas ao longo da linha e trouxeram arroz de uma distância de várias milhas, para replantar com a densidade oficialmente especificada, nos campos adjacentes. E nem esta charada pôde ser mantida sem o uso de ventoinhas eléctricas, que serviam para fazer circular o ar e impedir o arroz de apodrecer."

"The Undercover Economist" (Tim Harford)

O desastre foi muito agravado pela insistência oficial nessa política errada. O autor cita o caso do ministro da defesa que ousou levantar o problema da fome e por isso foi punido e obrigado a fazer a sua autocrítica.

"Estimativas do dobre de finados resultante da fome situa-se entre os 10 e os 60 milhões de pessoas (...)" De qualquer modo, o único responsável que oficialmente se conseguiu acusar foi o mau tempo...A história repete-se, sem que os homens pareçam aprender com a lição dispensada.

Foi o ministro czarista Potemkine talvez o primeiro a inventar um espectáculo político deste género. Para agradar a Catarina II, dispôs ao longo da estrada que aquela haveria de percorrer, algumas aldeias-modelo, pretenso resultado da política iluminada da cabeça do Estado.

Por estes exemplos se vê que o maior perigo (maior até do que o das catástrofes naturais que não sofrem de teimosia nem de vaidade) é o da concentração do poder. Porque mesmo se, por um acesso inaudito de modéstia, pretendesse corrigir-se, rodeia-o um coro de aduladores (com interesses muito reais na situação) que transforma esse erro no maior dos 'sucessos'.

0 comentários: