segunda-feira, 25 de setembro de 2017

A DIFICULDADE DO CONCRETO




"Apenas uma teoria sociológica suficientemente complexa 
( e isso significa sempre: abstracta ) permite seguir a pista das relações entre os desenvolvimentos estruturais e semânticos. Para toda a questão relativamente concreta, a teoria precisa de desenvolver uma complexidade adequada. Ora, o caminho que leva ao concreto passa sempre pela abstracção, e mesmo por um grau de abstracção muito inabitual, senão estranho, para as ciências sociais contemporâneas."

"Politique et complexité" (Niklas Luhmann)

O amor da simplicidade quer dizer alguma coisa. Não é por acaso que, no quotidiano, prezamos aquelas pessoas que não gostam de "complicar" e que estão só em si mesmas e não nos tamancos de ninguém, ou a armar a profundidade, como aquela personagem de Eça que, não se sabendo o que pensava, por estar sempre calada, prometia as elucubrações de um vasto intelecto, só pela dimensão do crânio.

A simplicidade pessoal é avessa a toda a teoria, sobretudo, a que possamos ter sobre nós próprios. E, na prática, pouco nos ajudam as teorias sobre os outros, sendo quase sempre mais fiável o instinto ou a intuição.

Não é assim com o mundo dos objectos ou a sociedade como um mundo ou um sistema. Aí, só as teorias nos permitem compreender, e sem isso só podemos "navegar".

Como as teorias com algum sucesso passam rapidamente a preconceitos e se tornam uma espécie de segundo mundo (como diria Popper), só aquelas suficientemente estranhas nos acordam do nosso "sono dogmático".

Mas, voltando ao princípio, poucas pessoas estarão dispostas a conceder que o valor da simplicidade não pode querer dizer a mesma coisa fora da moral.

Em ciência, a simplicidade é a extrema elegância, resultado de uma complexa depuração.

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