John Stuart Mill (1806/1873)
"O rígido princípio da igualdade pode ser imposto pelo acaso ou pela necessidade exterior; mas os homens capazes de pesar cada um, como numa balança, e atribuir, conforme o seu gosto e a sua apreciação, a uns mais, a outros menos, tais homens teriam quer de descender de super-homens quer de se apoiar num terror sobrenatural."
"Principles of Political Economy" (J.S.Mill)
Nem os pensamentos mais razoáveis como este estão ao abrigo de interpretações contraditórias, conforme as paixões puxam para um lado ou para o outro. Mill refere-se a uma igualdade rígida ( que a natureza e a essência da política condenam), logo, pressupondo que existe outra.
Mas a chamada igualdade de oportunidades ou dos direitos cívicos é uma igualdade mitigada e as mais das vezes retórica. Será possível, "sem o terror sobrenatural", desentortar o que "nasce das condições objectivas que os homens herdam dos que os antecederam e nas quais fazem a história que lhes é possível e não a que lhes seria determinada pela sua pura vontade"?
A tradição popular resolveu esse dilema recorrendo à ideia da má e da boa sorte. Uns nascem num berço de oiro e outros numa enxovia. Hoje sabemos, com a história do século XX, que foi, politicamente, um dos séculos mais experimentais, que as diferenças de classe sociais são menos relevantes do que as diferenças de poder e que nunca esteve à vista uma qualquer expressão derradeira da divisão em classes.
É verdade que o princípio de Mill, sendo justo, pode servir de álibi para os que defendem o status quo que os favorece. Mas esse é o destino de todas as teorias: a de servirem como meio de acção.
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