sexta-feira, 29 de setembro de 2017

CONIVÊNCIA


Martin Heidegger (1889/1976)



"É isso que confere a sua força sugestiva ao desejo de recomeçar com ela (a metafísica) desde o princípio, de questionar radicalmente, de esgaravatar a aparência com a qual a cultura fracassada recobre a sua culpabilidade e a verdade. Mas desde que esta pretensa demolição consentiu em pôr-se à procura de uma camada profunda, intacta, é que ela verdadeiramente se ligou à cultura que ela se vangloria de demolir. Enquanto os fascistas tonitruavam contra o bolchevismo cultural destruidor, Heidegger tornava a destruição respeitável como dispositivo para penetrar o ser. A crítica da cultura e a barbárie não vão sem uma certa conivência."

"Dialectique négative" (Theodor Adorno)

Talvez essa afinidade secreta entre o que parece mais elevado (a crítica em nome do Ser ou da Verdade) e o mais vil, a barbárie que, às vezes, é só o que parece radicalmente diferente, como o eram todos os não-Gregos, explique a vertigem de Heidegger, a sua estranha fascinação por um poder que justamente pretendia criar o novo, a partir de supostas raízes.

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