A Conversão no Caminho de Damasco (Caravaggio)
O que pode levar à conversão dum homem? É preciso, sem dúvida, começar por o distrair da sua paixão principal.
A teoria da paixão que devora outra tem ainda aplicação numa cultura que pretende policiar através do prazer, precisamente sem paixão? Nenhuma atitude hoje pode fugir à moda e a um código que lhe retira todo o valor subversivo. A paixão vive-se como uma espécie de zelo social, quando o corpo pode aspirar a uma libertação programada. Esta sociedade é intrinsecamente amoral. Nela só existe a conotação da moralidade.
Julgámos achar a liberdade ao desculpabilizar o corpo e a sensualidade. Parecia-nos que ao espírito moderno, à era triunfal da ciência que é a nossa, dissipar a nuvem metafísica a golpes de positivismo cientista era ocupar o lugar de Deus e abater as barreiras da sexualidade, que era aumentar o poder do homem sobre a natureza. Pois bem, a religião da escravatura está aí de volta, a anunciar a revolução do espírito.
À medida em que se trabalha para a libertação do trabalho, é a nova cultura americana que ganha as almas. A autoridade parental e os temas da colonização infantil convertem-se por sua vez no álibi ou no instrumento da infantilização dos adultos. É falso que os adolescentes amadureçam mais cedo, ou que as crianças sejam mais precoces: isso é apenas o efeito aparente da perda de identidade dos pais.
Como chegar então ao coração do homem para mudar o mundo? A conversão está à vista de todos. Mas não é voluntária. Os media têm a vantagem sobre os profetas de não forçarem o espírito e de desposarem o ritmo da vida sob a aparência dum livre arbítrio humano.
Além disso, podem dar-se ao luxo de esperar a actualização do pensamento.
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