"The Empire strikes back" (1980-Irvin Kershner)
A cabeça-elmo de Lorde Vader exerce um fascínio poderoso na cartaz. A sua forma trapezoidal tem a nitidez dum símbolo antigo, onde a eterna busca de certezas repousa um momento. A personagem é o anjo caído. No caminho da perfeição, Lorde Vader ficou a meio. A facilidade, como diz o guru dos pântanos, conquistou-o irremediavelmente, e todo o seu poder iniciático se muda em ressentimento. Aquele que se afastou da senda comum, e não tem forças para chegar ao Bem, constitui-se ele próprio em princípio de perfeição. E para isso tem de se opor, numa luta de morte, ao pai espiritual. É essa a condição para ser reconhecido. A trindade relegou este conflito para a ordem inferior das milícias, e desse modo realça a supremacia absoluta do Espírito. O anjo rebelde é uma criatura do erro e da impulsão para baixo que é o estado natural.
O diálogo entre o lorde infernal e Skywalker é a tentação no deserto. Mutilado, pendente da estrutura, o perfeito cavaleiro é amparado pela nave da liberdade, numa nova versão da descida da cruz. Os momentos fortes, em que uma estranha poesia parece contrariar as leis do género, relevam da história sagrada. E é este reconhecimento das formas para lá do disfarce da ficção científica que nos dá prazer.
Teremos nós entrado já numa cultura pós-escrita e este regresso em força dos mitos e dos deuses é o novo pensamento do mundo? Computadores, andróides, humanóides – com voz sem sexo, como se compreende – animalóides peritos em electrónica, humanos destinados à guerra das estrelas como os heróis de Homero, tudo se liga para fazer deste milagre da tecnologia o novo espírito religioso.
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