Robert Walser (1878/1956)
Canetti conta, em "La Langue sauvée", que foi apanhado pelo seu professor de Latim a ler, na aula, um texto de Walser.
Depois de cheirar o que era, o professor perguntou-lhe que tal o achava:
"Eu sentia que ele estava zangado, mas não queria dar-lhe inteiramente razão porque o livro, apesar de tudo, me atraía enormemente. Adoptei um meio termo: -Tem demasiados floreados, disse eu.
- Demasiados floreados? exclamou.
É um mau livro! Isso não vale nada! Podemos passar bem sem a sua leitura!
Em suma, uma condenação sem apelo. Eu cedi, fechei o livro a contragosto e continuei a lê-lo fora das aulas, com tanto maior curiosidade. A minha paixão por Robert Walser que, ao princípio, estava mais vacilante do que outra coisa talvez tivesse acabado ali sem a intervenção do professor Walder."
Refiro esta história porque só agora comecei a ler o meu primeiro Walser ("A rosa") e, quanto mais não fosse fiquei muito interessado pela sua estranha identificação com o príncipe Míschkin do "Idiota" de Dostoiewski. Ele diz que o conteúdo deste romance o perseguia por todo o lado.
Esta personagem ingénua era duma bondade desconcertante, parecendo dar razão ao aforismo que diz que facilmente se confunde um homem bom com um tolo, e acabou num hospício no fim do livro. Ora Walser, em cujas páginas verifico uma sensibilidade encantadora passou os últimos vinte e sete anos da sua vida num manicómio perto de Hersau.
1 comentários:
Not bad.
Enviar um comentário