domingo, 25 de dezembro de 2005

HALTEROFILISMO






Encontrei-o na Ribeira. Cumprimentámo-nos friamente, sem nos determos. Ele não perde uma ocasião para humilhar o seu semelhante, mas fá-lo, julgo eu, convencido de que está a limpar o mundo dos incapazes e a afirmar uma espécie de aristocracia da inteligência. É um homem sem cultura, no verdadeiro sentido da palavra, embora esteja muito bem informado. Habituou-se a este vácuo criado à sua volta que recebe como uma homenagem. Há pessoas que se vê logo que foram talhadas para o poder, que é militar na sua essência, como alguém disse. Um feitio assim intratável proporciona algumas alegrias de escravo quando se mostra benevolente para nossa surpresa. Nessa incoerência, adivinho que ele não perdeu a esperança de fazer amigos. É preciso gozar de muito boa saúde e ter uns nervos sólidos para aguentar a sua reputação. Vai acontecer-lhe, com a idade, o que acontece com os músculos dos halterofilistas.

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