terça-feira, 27 de dezembro de 2005

O FRUTO PROIBIDO


Adão e Eva (Ticiano)


"Talvez os vícios, as depravações e os crimes sejam quase sempre, ou mesmo sempre, na sua essência, tentativas para comer a beleza, comer o que é necessário olhar apenas. Eva marcou o começo. Se ela perdeu a humanidade ao comer um fruto, a atitude inversa, olhar um fruto sem o comer, deve ser o que salva."

"Espera de Deus" (Simone Weil)


Esta hipótese vai mais longe do que a de Sócrates quando diz que ninguém é mau voluntariamente.

Na imagem weiliana da fome coloca-se o desejo no centro da alma e o mundo enquanto necessidade e harmonia como seu alimento.

Este desejo, porém, não se confunde com a líbido freudiana e não pode ser satisfeito pela posse da beleza. É o olhar que salva (como a serpente de bronze de Moisés, que Simone cita).

Por isso, o crime é, como em Sócrates, uma violência devida à paixão e à ignorância. Mas a Beleza é menos abstracta do que o Bem, sendo na concepção de Simone Weil um atributo do universo que também somos.

O desejo, pelo que tem de sensível e secreto permite ultrapassar os limites do sujeito da consciência e representa melhor o ser humano na verdade da sua incompletude.

E a injustiça, do mesmo modo, não pode ser completamente solúvel no social.

1 comentários:

Heitor Araujo disse...

De saída para férias, aproveito para lhe deixar os parabéns pelo seu extraordinário blogue, acompanhados de votos de um óptimo 2006.

Saudações,

HVA