Enfim, vi duma ponta à outra um lado a lado das presidenciais.
Não para me informar, certamente. Para me decidir por um detalhe, pelo que revela um descontrole? Nesse caso, a surpresa só poderia vir de Cavaco que é o controle em pessoa.
Soares, permanentemente ao ataque (como que a calar os que o acusam de estar gasto) e a criticar a postura e o temperamento do outro, não sentiu a necessidade de se explicar nem de dar a conhecer o que pensa sobre o cargo, a não ser picado pela ironia do adversário.
De facto, ele sabe que não há nada de novo a dizer. Está tudo dito e redito.
Por isso é que o silêncio é temível, porque dá espaço à imaginação.
Compreende-se, assim, que para Soares o esclarecimento necessário não era o das suas ideias, mas o do vazio daquele silêncio.
Apesar de tudo, não conseguiu demonstrar que não há nada por detrás da postura cavaquista (a televisão só permite o banal e as generalidades) e fez do seu opositor um mártir, sem causa para muitos, mas um mártir.
A questão é que a nossa sociedade mediatizada, na ocorrência, mais do que uma ideia e de um discurso transparente quer ser seduzida por uma imagem.
Está feita a mise en scène da crise. Falta-nos o ícone para resolvê-la numa atmosfera de unção e de sacrifício.
Alguns chamam a isso um clima de confiança.
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