terça-feira, 11 de outubro de 2005

A NOSSA PARTE MALDITA



“O declínio do paganismo acarretou o dos jogos e dos cultos cujos custos os romanos ricos deviam obrigatoriamente cobrir; é por isso que se pôde dizer que o cristianismo tinha individualizado a propriedade, dando ao seu detentor uma disposição inteira dos seus produtos e abolindo a sua função social.”

“A noção de despesa” (Georges Bataille)

Como o autor diz a seguir, essa despesa tornou-se livre, através da esmola e das doações às igrejas e aos mosteiros ( e, hoje, às fundações ).

É assim que um grande industrial, envolvido num célebre processo judicial e acusado por uns de rapacidade na condução dos seus negócios e por outros admirado como um moderno “tycoon”, com o toque de Midas, talvez para surpresa de todos, legou ao mesmo povo de que parecia tão distante e cujas escolhas políticas desprezava os vultosos milhões duma fundação benemérita.

Não será uma boa ilustração da tese de Bataille de que existe sempre no “conjunto da matéria viva” um excesso de energia que deve ser delapidado em pura perda.

O desperdício que constantemente se assaca à nossa administração pública talvez seja um melhor exemplo.

Queimamos a nossa gordura numa suave ineficiência, em vez de erguermos novas pirâmides ou de desencadearmos tempestades no deserto.

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