Tenho um bom amigo em Lisboa que sempre me surpreende pelo seu inconformismo “boutadiste”.
Desta vez, sobrevoávamos os últimos acontecimentos políticos como num balão que já tivesse visto melhores dias e paragens mais interessantes.
No Campo Grande, os patos negros corriam chapinhando pela água, enquanto ele dizia que o partido mais à direita (porque não teria que contradizer a sua doutrina) era mais honesto do que o partido socialista, mesmo concedendo que este não tinha grande margem de manobra para fazer outra política, dado o espartilho europeu e a situação económica.
Assim, o que ele implicitamente propunha é que só deveriam governar os partidos pragmáticos, com o mínimo de ideias a que a realidade resistisse (porque também os ideais da direita implicariam um retrocesso não praticável).
Estava um autêntico dia de verão e o sol começava a dardejar sob a orla do chapéu.
Fiquei a pensar com os meus botões naquele aparente bom senso. Mas concluí que um partido conservador nunca é o mais indicado para a mudança possível, pois não a deseja, e que, pelo contrário, só quem quer o impossível, mas conhece a máxima do príncipe de Salinas de que é preciso mudar tudo para tudo ficar na mesma, pode mudar por pouco que seja.
Claro que os partidos têm muito de história natural e os seus nomes podem não satisfazer já à razão.
1 comentários:
É de Lampedusa, em O leopardo, uma frase paradigmática da cultura política que cito de cor: é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma.
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