sábado, 17 de novembro de 2012

O DEDO INDICADOR

Toilet ready-made (1917 - Marcel Duchamp)




O autocarro pára por causa da chuva (muita gente traz o carro nestes dias). Pela janela, vejo, por entre os cordões de água, o tronco branco dum choupo, cortado de algumas linhas horizontais e os círculos escuros de cada nó distribuídos segundo uma ordem que parece arbitrária, mas que evidentemente se explicará por uma série de factores genéticos, humanos e ambientais. Essas “causas” estão tão longe da minha percepção que é como se nunca tivessem existido ou como se a árvore em vez dum ser natural fosse a criação dum espírito impenetrável.

Não importa. O que atraiu a minha atenção foi a beleza da secção do tronco que se oferecia aos meus olhos. Não dum tipo natural, mas verdadeiramente abstracta, que se visse numa moldura admiraria de igual modo.

Bom, esta capacidade moderna de fazer de qualquer corte do mundo um conjunto expressivo ou significativo não é novidade desde Duchamp, Maigritte ou Wharol, entre muitos outros.

O que confere o estatuto de arte é, desde então, o dedo indicador.

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