terça-feira, 13 de novembro de 2012

A LÓGICA DA DONA DE CASA

Medina Carreira


A televisão fez do prof. Medina Carreira, antigo ministro das Finanças de Mário Soares, o modelo dum estilo de comunicação frontal, 'sem papas na língua' e que toda a gente entende. Mesmo quando recorre a gráficos, qualquer pessoa, 'mesmo sem ser um Einstein', como diria o meu antigo director, pode compreender (se não for doutrinário).

No seu último programa na TVI, repetiu, sobre o Estado Social, o que tem vindo a dizer, incansavelmente, desde há alguns anos.  Que já estávamos a caminho da falência, mesmo antes da crise dos 'subprime' de 2007/2008 e que os números eram tão eloquentes então como o são agora. A crueza da situação era apenas velada pelo crédito barato que, agora, parece ter acabado (menos para os Alemães que o têm a menos do que zero e que depois no-lo concedem a 3,5%).

Tanta lógica chega a ser arrepiante, visto que ninguém conhece o futuro, e mesmo se as projecções de Medina Carreira (por exemplo que dentro de 7 anos, se não se fizer nada, o Estado Social vem abaixo) dispensam os algoritmos mais complicados, porque são simples contas de 'dona de casa', não há maneira de termos todos os dados sobre o que aí vem. Ainda há um ano, por exemplo, alguém previa que a dependência dos EUA em relação às importações de petróleo poderia vir a ser coisa do passado apenas daqui a uns anos?

Os cálculos 'económicos' e a lógica do professor no programa 'Olhos nos Olhos' tratam a relação entre o presente e o futuro como um desastre de comboio. Se um milagre não desviar os carris, a colisão não pode ser evitada. Comboio, carris e obstáculo formam um sistema fechado quase perfeitamente previsível (porque pode, por exemplo, ir a bordo um terrorista que provoque um outro tipo de acidente).

Medina Carreira pode alegar que já não está no domínio da profecia, mas da realidade. A 'colisão' ('au ralenti') já começou.

A questão é saber, no caso português, se é mais prudente ser pessimista (tudo se passará conforme a lógica 'restrita'), e o governo vai continuar a desmantelar o Estado Social na aposta de que isso relançará a economia (mas Gaspar já falhou a primeira aposta duma forma que, não fora a troika e a chancelarina, já merecia ter sido demitido - mas a política é mais destas do que dele, não é?), ou fazer a aposta contrária, contra essa mesma lógica.

O problema é que esse 'optimismo' foi confundido com a redita irresponsabilidade de um Sócrates estigmatizado (mesmo quando obedecia às directivas europeias, por um tempo, keynesianas, tal como agora o faz Passos Coelho com directivas opostas).

E há, evidentemente, os demagogos da 'multiplicação dos pães', mesmo sem economia e só com impostos para Belmiro de Azevedo e outros como ele.

A parábola da figueira seca, em S. Marcos, vem a propósito. Se ficarmos pelas teses de Medina Carreira, apesar dos seus números serem, talvez, incontestáveis, mereceremos a maldição que Cristo lançou à figueira (apesar de não ser a estação dos figos).

0 comentários: