sábado, 10 de novembro de 2012

A TEIA DOS DETALHES






“Todo o progresso constitui um ganho de detalhe, mas um corte no conjunto; é um crescimento de potência que desemboca num progressivo crescimento da impotência, e é algo contra o que nada podemos fazer. Isso lembrou a Ulrich essa massa de factos e descobertas, engrossando quase de hora em hora, da qual o espírito tem de desviar o seu olhar se quiser examinar com precisão seja que problema for.”

Robert Musil (“O Homem sem Qualidades”)




Costuma-se dizer que quanto mais se aprende menos se sabe, o que faz todo o sentido, uma vez que, à medida que vamos alargando o horizonte do nosso conhecimento, vemos reduzir-se a importância do que já sabemos e a sua pertinência.

Mas o que Musil diz não é isso.

Ele afirma que o que julgamos saber é um obstáculo para a nossa inteligência, do qual temos que nos alhear para pensar verdadeiramente.

De que nos serve, então, a acumulação de “detalhes”? Para nos enchermos de nós, numa altura em que o erro antropocêntrico parece julgado.

A nossa teia tornou-se tão espessa que já não deixa passar a luz.

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