terça-feira, 7 de agosto de 2012

TRADUÇÃO IMPOSSÍVEL

Wittgenstein com o manuscrito

" (...) o que é lógico não pode ser apenas possível. A Lógica trata de cada possibilidade e todas as possibilidades são os seus factos."

"Tractatus" (Wittgenstein)



A melhor maneira de compreender um autor não é começar por criticá-lo. No final, o eventual desacordo terá alguma coisa que ver com as suas ideias.

Sabe-se que Ludwig Wittgenstein chocou o mundo académico com as suas teses contra a filosofia e mesmo um Russell foi incapaz de o refutar. Como é natural, o iconoclasta tornou-se um clássico da filosofia. No princípio, Sócrates não começou por negar o próprio conhecimento?

Mas que mundo é então esse em que os factos não se distinguem das possibilidades? Uma resposta seria a de que esse é o mundo platónico das ideias, em que a Lógica é um pré-existente e em que, de facto, não faria sentido falar em 'actualidade' ou em factos, porque esse mundo é 'real' e actual ao mesmo tempo.

O filósofo diz também que o mundo é a totalidade dos factos e não das coisas. Não são estas as sombras da Caverna, sem realidade? E aconselha-nos a sermos claros ou a ficarmos calados para sempre:

"o que é de todo exprimível, é exprimível claramente; e aquilo de que não se pode falar, guarda-se em silêncio."(idem)

Pode-se concluir que o nosso mundo devia ser muito mais lacónico do que aquilo que é. Na verdade, haveria muito pouco que exprimir se quiséssemos estar à altura desta Lógica. Os mais lacónicos seriam com certeza os que, tendo visto o sol de Platão, voltassem ao mundo dos simulacros, porque não haveria tradução possível em linguagem clara.
 

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