sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O MAL JACOBINO

Jacobinos


“Foi por um lado a herança do Terror, por outro, a influência do exemplo inglês, que instalou os partidos na vida pública europeia. O facto deles existirem não é de modo nenhum um motivo para os conservar. Só o bem é um motivo legítimo de conservação.”


Simone Weil (“Nota sobre a supressão geral dos partidos políticos")


Simone Weil via nos partidos o mal em estado puro. Herança da Revolução Francesa, a qual tinha incorporado o espírito da Inquisição que combatera, os partidos tornam-se, inevitavelmente, o fim de si mesmos, procurando o crescimento ilimitado e exercendo uma pressão colectiva sobre o indivíduo que é destrutiva do pensamento livre.

É assim que propõe aos chefes da Resistência no exílio a supressão geral dos partidos políticos para depois do fim da guerra mundial.

Simone ressalva o caso dos partidos anglo-saxónicos cuja tradição, que “não é transplantável”, apresenta um elemento de jogo e de desporto, só possível “numa instituição de origem aristocrática.”
 
“Acha-se perfeitamente natural, razoável e honroso que alguém diga: “como conservador” ou “como socialista – eu penso que...” e “(...) se não há verdade, é legítimo pensar desta ou daquela maneira enquanto se é isto ou aquilo.”

Ora, parece que esta é a maneira de falar de todos os políticos. Portanto, como se a verdade fosse relativa e dependesse de se pertencer ou não.

Esta posição radical do filósofo tem, pois, muito a ver com a actualidade. São cada vez mais as vozes que reconhecem o império asfixiante dos partidos na vida política e a corrupção generalizada que esta inversão dos meios e dos fins acarreta.

Para Simone, os partidos, como máquinas de fomentar a paixão política, trabalham contra a democracia e, ao levarem os seus membros a defenderem um pensamento colectivo (quando só o indivíduo tem a capacidade de pensar), são contra a verdade.

A desvalorização da política tem, evidentemente razões culturais profundas, em que o descrédito dos partidos é apenas uma parte do problema. De resto, talvez que a crescente aproximação dos partidos continentais ao bipolarismo anglo-saxónico venha ao caso.

Por outro lado, é claro que a democracia sem os partidos ficaria demasiado exposta à organização estatal e à movimentação clandestina, para além de que os media têm hoje um poder que não tinham. Está pois por inventar um novo equilíbrio que nos poupe o dilema entre partidos jacobinos e partidos sem alma.

Uma coisa é certa: democracias exangues não podem vencer o fanatismo religioso. E isso é duma urgência que está à vista de todos.


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