sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A CÂMARA INTERIOR

Santo Anselmo de Cantuária


"Vamos lá, homenzinho, desvia-te por um tempo das tuas ocupações diárias, escapa por um momento ao tumulto dos pensamentos...Entra na câmara interior da tua alma, deixa de fora tudo menos Deus e tudo aquilo que te pode ajudar a procurá-lo, e quando fechares a porta, procura-o."


(Santo Anselmo: "Proslogion", citado por Karen Armstrong)


O tom condescendente do santo tanto pode querer dizer que aquilo que está a pedir está acima das possibilidades da alma que, por ignorância, nem sequer encontrou a 'câmara interior', como que tal seria coisa fácil e óbvia, não fosse a resistência do mal, a 'má-vontade'.

A redução ao elemento mais puro (uma ideia da química), ou da matéria à ideia significa uma conversão de toda a experiência a um único princípio. O sentido assim recebido pelo espírito 'em tumulto' permite a distância do sujeito.

Por 'linhas tortas' como estas se chegou ao 'cogito' de Descartes, à  análise científica ou à sublimação freudiana.

A 'câmara interior' não está hoje, naturalmente, no centro. Porque toda a abstracção a imita e o milagre chama-se atenção. O que quer dizer que ao longo da história não fomos 'atentos' da mesma maneira.

Santo Anselmo talvez mereça alguma condescendência.

0 comentários: