quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O PODER PAPAL



"O soberano deste país goza do poder político mais absoluto, e ao mesmo tempo dirige os seus súbditos no assunto mais importante das suas vidas, o da salvação."


"Promenades dans Rome" (Stendhal)


O livro de Henri Beyle foi publicado em 1829, quando se podiam dizer aquelas palavras sobre a Itália e sobre o papa.  Se os reis governavam por direito divino, o sumo pontífice era o monarca mais legitimado, mas não era perfeito porque com ele acabava a dinastia.

Entretanto, a nossa visão do político mudou quase tanto como os 'estados pontifícios' de antes da unificação do país. Com efeito, não poderemos considerar o poder dos papas como verdadeiramente político. O 'absolutismo' de que fala o romancista pode ser herdeiro do cesarismo, que até reuniu na pessoa do imperador as funções políticas e religiosas, mas aqui tinha um valor simbólico, até certo ponto, independente da política.

Seria interessante comparar as funções dum monarca como Luís XIV de França e as dum qualquer dos papas daqueles tempos em termos de responsabilidade pessoal. Mesmo como representante de Deus na terra - e Luís era devoto - o sentimento de que não competia a mais ninguém dirigir os destinos dum país em 'perigo natural' teria de ser diferente de estar nominalmente à frente dum estado 'sub specie aeternitatis'.

Esse estado é todo o contrário da política que é o resultado da acção livre dos cidadãos, daqueles homens que fazem da sua cidade o ambiente mais propício ao desenvolvimento das suas capacidades. Isso, idealmente, porque, na realidade, a mistura da violência e dos mecanismos sociais rebaixa sempre a política.

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