quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

A SINGULARIDADE DO CORPO


Gulliver em Liliput


"Törless sentiu-se maravilhosamente protegido desses personagens demasiado astutos e, pela primeira vez, compreendeu que tinha na sua sensualidade - porque havia muito tempo já que a tinha reconhecido - qualquer coisa que ninguém lhe poderia tirar, que ninguém poderia imitar tampouco, qualquer coisa que o guardava, como uma muralha muito elevada e muito secreta, de toda a inteligência exterior."

"Les désarrois de l'élève Torless" (Robert Musil)


O jovem Törless, depois de ter sonhado com os pais, "mas tão pequenos que era incapaz de sentir o quer que fosse por eles", sonha com o seu professor de matemática e com Kant (os homenzinhos).

Nesta viagem onírica a Liliput, tudo o que constitui o mundo estranho e ameaçador dos adultos se vê reduzido no tamanho e, pelo contrário, a consciência do seu próprio corpo cresce e rodeia-a como uma muralha.

Parece a defesa do irracional e da sensualidade, como último reduto da infirme personalidade contra a abstracção das regras universais.

Mas, mais uma vez, é o primeiro ponto de apoio, exclusivamente nosso, e ao abrigo da "inteligência exterior", para o desenvolvimento do que somos.

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