Paul Cézanne ("Les Grandes Baigneuses")
"Há, na obra de Cézanne, um momento de viragem que transforma um pintor ainda clássico no inovador de onde vai sair toda a arte moderna: quando, no fim dos anos 70, começam as séries das Baigneuses. A partir daí nota-se uma ruptura; precisam-se as técnicas de decomposição da cor e do espaço, a teoria dos semi-tons de cores é levada às suas últimas consequências, a profundidade do espaço é cada vez menos perspectivista, etc. Como é que Cézanne consegue esse efeito extraordinário de desarticulação da cor que vai muito mais longe do que os impressionistas?"
"A imagem-nua e as pequenas percepções" (José Gil)
Esta pintura é um trabalho contra a percepção educada. Vai ao encontro do caos original, antes da nomeação do homem e das coisas.
Percebemos como a invenção, no Renascimento, da perspectiva correspondia a todo um projecto de dominação da natureza e de privilégio espacial do sujeito.
Com Cézanne, "os corpos não estão na paisagem como num cenário, mas tornam-se dela parte integrante, assumindo uma certa imobilidade natural, vegetalizando-se ou mineralizando-se à semelhança dos elementos que a ladeiam."
O quadro não existe já em função dos nossos movimentos, nem dos nossos interesses práticos. O mundo que nele vemos já não é o mundo, mas a "interioridade do pintor é agora toda a paisagem". Uma estranha afinidade parece vislumbrar-se entre esta técnica revolucionária e a ideia de um inconsciente que põe em causa a autonomia do sujeito. No fundo, é como se Cézanne tivesse renunciado a toda a objectividade, a todo o referente.
A arte pôde, a partir dele, realizar triunfalmente o seu sonho "hermafrodita" e exilar numa espécie de limbo a crítica da arte pela arte.
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