"Fountain" (1917) de Marcel Duchamp
"Assim, a "Fonte" de Duchamp ou o "Quadrado Negro" de Malevitch se deixam interpretar como obras de arte inferiores, feias, falhadas, mas ao mesmo tempo originais, novas e fazendo época. Estas duas concepções são igualmente lícitas; ambas dependem de uma interpretação bem determinada, segundo a qual as coisas são interpretadas ou como novas, ou como inferiores. Nenhuma dessas interpretações é sustentada pelo quer que seja, uma vez que não existe nem um fundamento ontológico da norma, nem um fundamento ontológico da alteridade e da não-normatividade universal."
"Du Nouveau" (Boris Groys)
Nada nos alerta melhor do que esta valorização da novidade e do conceito original para as regras de um jogo que deixou há muito tempo para trás tudo aquilo que caracterizava a antiga estética. Mas, pelo facto de existir um "arquivo", como diz Groys, de obras de arte, podemos sempre comparar os novos objectos com os que já fazem parte da cultura.
Não é por acaso que se fala aqui em inferioridade e fealdade. A leitura, que é tudo quanto a diferença reclama, é muito mais fácil de satisfazer do que a emoção e o que dantes se chamava o sentimento do belo.
Talvez este seja o preço a pagar pela liberdade da arte, que já só se refere a si mesma. Mas não deixa de ser verdade que a arte enquanto processo técnico sofreu uma vertiginosa aceleração, a ponto do tempo e a "maturação" poderem nela significar cada vez menos. Basta pensar na arte instantânea ou no ready-made.
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