"O passado traz consigo um índex secreto (heimlichen Index) que o destina à redenção (Erlösung). (...) Existe um entendimento secreto (geheime Verabredung) entre as gerações passadas e a nossa. Na Terra, nós fomos esperados. A nós, como a cada geração precedente, foi acordada uma fraca força messiânica sobre a qual o passado faz valer uma pretensão (Anspruch). Esta pretensão, é justo não a negligenciar. Quem quer que professe o materialismo histórico sabe por que razões ( sabe alguma coisa sobre isso: Der historische Materialist weisz darum).
Walter Benjamin ("Illuminationen", citado por Jacques Derrida em "Spectres de Marx")
Se não existisse esse apelo do passado, se a herança não implicasse uma íntima vocação, poderíamos falar de uma verdadeira comunidade?
Derrida refere-se ao messiânico sem messianismo de Benjamin, a propósito do seu materialismo histórico, para relevar que, nesta medida, o "código marxista" era já de certo modo ultrapassado.
Com efeito, o conceito de dominante (em ideologia dominante, por exemplo) que se poderia reduzir ao truísmo da força ser sempre mais forte do que a fraqueza, é aqui posto em causa. O messiânico, mesmo sem um Messias, não é, pelo menos, da ordem da força.
A heterodoxia de Benjamin vai mais longe ainda quando compara "a lenda do autómato capaz de responder, numa partida de xadrez, a cada lance do seu parceiro e de se assegurar do êxito da partida." à sua réplica filosófica da "boneca chamada "materialismo histórico": "Ela pode audaciosamente desafiar quem quer que seja, se tomar ao seu serviço a Teologia, hoje, como se sabe, pequena e feia e que, ainda por cima, não ousa mostrar-se." (ibidem)
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