segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A ÓPTICA DO AMOR

Jesus e Madalena (Catedral de Chartres)

"É por isso que as mulheres um pouco difíceis, que não se possuem de imediato, das quais nem se sabe logo se algum dia poderão ser possuídas, são as únicas interessantes. Porque conhecê-las, aproximarmo-nos delas, conquistá-las, é fazer variar de forma, de grandeza, de relevo a imagem humana, é uma lição de relativismo na apreciação de um corpo, de uma mulher, bela quando se volta a percepcionar, quando retoma a elegância da silhueta no cenário da vida. As mulheres que se conhecem primeiro através da proxeneta não interessam, porque permanecem invariáveis."

"Le côté de Guermantes" (Marcel Proust)

Há aqui alguma perversão "voyeuse", que reduz o amor à imaginação. O corpo visto como um caleidoscópio imerge no mundo físico da óptica que transvasa da relação amorosa. E, singularmente, o que falta aqui, o aspecto moral do amor, surge como preconceito sob a forma da invariância, a propósito das mulheres fáceis.

Mas não é a figura cristã da Madalena ( não das madalenas de Combrai) o próprio desmentido da invariância?

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