sábado, 1 de julho de 2006

INCENSOS DE ÓPERA


"La Luna" (1979 - Bernardo Bertolucci)


O que nos leva a ser tão indulgentes com este filme, que acaba tão bem, é a ideia da psicanálise. Já foi um lugar-comum interpretar o conflito básico da família em termos de função sexual e luta entre o princípio do prazer e o da realidade. É só aborrecido que este mito moderno não seja tratado como poesia.

Há no filme uma demonstração desnecessária. Uma boneca russa dentro de outra. Esta viagem à procura do nome do pai – da herança, do território, do modelo que se ergue sobre o barro materno – corresponde a um tema literário ou à psicologia natural? O adolescente injecta-se de heroína porque não lhe importa a vida. A mãe como pessoa não lhe interessa. Verdi deixa-o indiferente, apesar de ser como um pai para Catarina. Não podemos deixar de pensar na actual crise da família que é uma crise da palavra do pai.

A televisão apareceu como um politeísmo usurpador na casa familiar. Deu às crianças um simulacro do poder mágico sobre o mundo que era exclusivo do adulto. E a fonte da linguagem social e dos modelos de identificação passou a ser outra. Ninguém viveria um momento sequer com a peste dentro de casa, se pudesse correr com ela. Mas todas as barreiras foram vencidas. Não dispomos de nenhuma arma contra uma inclinação tão natural.

Os estupefacientes, os jovens cansados de viver, os adultos que regressam à infantilidade, sinais dos tempos. Mas há quem insista em ver no fenómeno de decadência espiritual apenas o conflito de gerações. Bertolucci dá ao filme uma conclusão que em linguagem política se podia chamar de reaccionária.

Mas não esqueçamos que é um italiano, e que, ao tempo do filme, os jovens no seu país resolviam o complexo de Édipo pelas armas.

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