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(José Ames) |
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Alexandria |
"Justine e a sua cidade são parecidas, nisto, que ambas têm um forte sabor sem terem realmente qualquer carácter."
"Não deveríamos concordar quer com o elogio de um uso benéfico dos mídia, quer com aqueles que gritam contra a manipulação, pela simples razão de que não há relação entre um sistema de sentido e um sistema de manipulação. A publicidade e o voto em eleições seriam incapazes, mesmo que quisessem e disso se reclamassem, de alienar a vontade ou a opinião de quem quer que seja, pela razão de que não actuam no espaço/tempo da vontade e da representação em que o juízo é formado. Pela mesma razão, embora invertida, é-lhes completamente impossível lançar alguma luz sobre a opinião pública ou a vontade individual, uma vez que não actuam no espaço público, no palco do espaço público."
"No dia do julgamento, o jornal do partido, 'Izvestia', deixou claro que "o marxismo-leninismo não reconhece a liberdade igualitária de expressão."
(Martin Gilbert, a propósito da repressão, pelo governo da URSS, do fenómeno 'samizdat', iniciado nos anos sessenta)
Com toda a coerência, o órgão do partido reconhece a liberdade de opinião apenas aos que pensem como o comité central. Mas o que destoa (e trai ao mesmo tempo o fundo doutrinário), é a expressão 'igualitária' que se justapõe à palavra liberdade.
Declara-se, em primeiro lugar (e muito logicamente) que a liberdade não é para todos, mas responde-se, de passagem, à crítica que no país da 'verdadeira' igualdade, uns sejam 'mais iguais do que os outros', sustentando-se que o direito de opinião faz, na verdade, parte daquela liberdade 'desigual''.
O marxismo-leninismo, como a doutrina zelosa que é, 'não 'reconhece', simplesmente, igualdade às outras doutrinas, de resto, rebaixadas à categoria de ideologias, e teme, como Jeová, que outros templos ocupem 'os lugares altos'.
" Um bilhete de lotaria é o exemplo acabado do efeito de possibilidade."
(Daniel Kahnemann)
Não é, de facto, evidente que uma probabilidade tão remota de nos sair o número da sorte equivalha a uma 'possibilidade' quase impossível. Somos levados, por isso, a sobrevalorizar enormemente as nossas hipóteses.
É curioso que ao contrário do prémio fabuloso, o mais funesto dos acontecimentos, apesar de ter também existência estatística, tem tendência a ser completamente obliterado das nossas perspectivas. Na verdade, não nos ajuda nada a viver e essa 'desvalorização' deve ser uma das aquisições mais valorizadas da espécie.
Se, conforme a tese de Kahnemann, 'só temos aquilo que vemos' ( e isso aplica-se não só ao que se apresenta à nossa consciência num dado momento, deixando no limbo ou na inactualidade, porventura, as nossas experiências e ideias mais importantes, mas também ao estado do mundo e ao estado do nosso corpo que influenciam as nossas decisões), há certas ilusões que são mais úteis ao próprio e à sociedade do que algumas das mais informadas e pensadas (não esqueçamos que esse esforço é quase sempre circular) das nossas decisões.
Só assim foi possível que um Greenspan não tenha visto a crise chegar e que os economistas da sua escola persistam nos mesmos erros. É mais importante para eles, sem dúvida, estarem convencidos e convencer um certo tipo de pessoas de que realmente 'sabem', do que criar mais uma fonte de incerteza para o negócio e para os seus bónus.
Gilles Deleuze
"A verdade não se rende, ela trai-se."
Gilles Deleuze
A verdade não está escondida como um tesouro para ser descoberta, com esforço, com sorte ou pela graça.
A verdade é o que não fomos feitos para penetrar e, pelo contrário, o mais natural é que nos enganemos a seu respeito, que tomemos sempre a nuvem por Juno.
Não andamos longe do "malin génie" de Descartes que deliberadamente conduz a nossa razão a um simulacro da verdade, convencendo-nos de que estamos certos dela.
É o que quer dizer a verdade trai-se.
Mas a que é devido esse descuido, essa fraqueza, tão imprópria da omnipotência?
Por detrás desta estratégia da ilusão não parece estar Deus, mas... nós próprios.
A verdade trai-se porque não a podemos suportar, ao mesmo tempo que não podemos alcançar a perfeita ilusão.
Robert Bresson (1901/1999)
Bresson apenas queria modelos, que "manipulava" à sua vontade, dando-lhes indicações de voz, postura e expressão. Um actor profissional era o contrário do que precisava e nunca ele empregou o mesmo modelo duas vezes.
Assim como o plano deveria ser o mais neutro possível para ganhar maior contextualidade, ao modelo era-lhe pedido que não representasse, mas que deixasse o seu corpo, na medida do possível, sem pensamento e entregue ao condicionamento instintivo.
Era, deliberadamente, uma espécie de anti-teatro, o que faz de Bresson o anti-Oliveira, sem que uma certa ascese deixe de ser peculiar a ambos os cineastas.
Como se explica que essa estética anti-teatro se torne tão teatral no "Pickpocket"?
Podem ser sonâmbulos ou ventríloquos estes diálogos, mas falam detrás da máscara, como o mais antigo teatro.
"Cobertura com tinta amarela de uma imagem do artista Hazul foi a gota de água para os 'writers' da cidade e gerou polémica nas redes sociais. Página de Rui Rio na Wikipédia foi alvo de alterações sarcásticas."
(Público de hoje)
Noutro local, o mesmo jornal evoca a 'eterna questão' do 'vandalismo ou arte?'
Os casos em que se pode falar de arte, infelizmente, não são muitos. Mas mesmos os maiores artistas (imaginemos um pintor da Renascença que trocasse os seus pincéis pelo aerosol e que aviasse encomendas que ninguém lhe pediu) não deviam sentir-se autorizados a impor os seus trabalhos na propriedade dos outros e, muito menos, no património público.
Vê-se pela reacção um tanto histérica à iniciativa do município, que parece ter só agora despertado da sua letargia, talvez embaraçado pela falsa questão do 'vandalismo ou arte', ou inibido pela reputação filistina de Rui Rio.
Qualquer cidadão tem o direito de recusar (esses pobres ignorantes do valor das 'obras-primas') que pintem as paredes da sua casa numa cor que não escolheu ou que as utilizem como tela para um desses desejos irreprimíveis de expressão, ou simplesmente, por causa da adrenalina que essa infracção pode provocar no auto-proclamado artista.
Já não pega a habitual denúncia do sentimento burguês de propriedade, porque a casa pode ser a de qualquer um (mesmo de um alentejano que gosta tanto de caiá-las). Mas vale a pena enfrentar o que é no fundo uma vaga de frustração artística. Quando não se pode criar um escândalo através dum estilo vanguardista, tenta-se confundir a indignação suscitada por um caso de ordem pública com a que seria provocada no 'bourgeois épaté' pela arte revolucionária.
Porque, na verdade, é preciso entender a degradação do ambiente urbano, com a invasão da fealdade e da decadência que a crise veio agravar, como um factor decisivo do nosso 'temperamento' e da 'cor' das nossas ideias.
A cidade, nos últimos anos, graças à proliferação selvagem das pichagens pretensamente expressivas ou, simplesmente autoritárias, de 'marcação do território', tornou-se em boa parte deprimente.
Nesse sentido, esta frustração da linguagem representada pelo fenómeno dos graffiti, é uma aliada da Crise. Ajuda a criar um ambiente de beco-sem-saída, muito semelhante, apesar da aparência, à depressão 'radiosa' provocada pelos grandes cartazes dos líderes norte-coreanos.
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Antoine de Rivarol |
" (...) as pessoas da Corte e os nobres, nunca deixaram de ser aos nossos olhos mais do que enfadonhos libertinos, em Paris, ou mendigos de talões vermelhos, em Versalhes."
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Herberto Helder |
"Hoje nada sei. Correm em mim os mortos, como água - com o murmúrio gelado da sua incalculável ausência."
"A Colher na Boca" (Herberto Helder)
No último filme de Malick, um dos amantes diz: 'sinto-te tão presente que quase posso tocar-te.' É calculável esta outra ausência, no mais íntimo do 'corpo a corpo'?
O paradoxo da solidão entre muitos é a mesma verdade centuplicada. Os amantes encontram-se quando se perdem.
Mas, no poeta, tudo isto está ligado à perda de um saber. 'Hoje, nada sei.' O saber de calcular este género de distância, esta ausência imperdoável.
'Os mortos passam como água'. Como noutro reino da natureza. Se assim deslizam sem se deixar prender a nada, será porque são já puros espíritos? 'Dos mortos, nada a não ser bem' ('de mortuis nil nisi bene' ) é o início dessa sublimação. Ou porque a água é a metáfora perfeita da vida que passa?
Infelizes daqueles que se agarram às margens.
Terrence Malick é o americano mais próximo do cinema russo (penso na música pasmada de um Tarkovsky).
Seria possível depurar um estilo na prodigalidade? Buñuel, tão prolífico, é a prova de que sim. Malick que, em 40 anos fez 6 filmes, com uma paragem de quase duas décadas, pertence a outra linhagem. Só faz os filmes quando cresce.
Neil (Ben Affleck) ama Marina (Olga Kurylenko) e, depois desta regressar a França, 'retoma' (o mesmo amor?) com Jane (Rachel McAdams), uma amiga de liceu. Mas a primeira já não se sente bem em Paris e quer 'calçar' o primeiro tempo de júbilo inocente. Neil escolhe, quase 'obrigado', viver o segundo acto com ela. Mas sucede o desencanto e a frustração. Jane desaparecida da cena, Neil afasta-se da mulher com quem acabou por casar por causa do visto.
As incertezas do amor têm uma espécie de réplica nas dúvidas do padre Quintana (um inesperado Javier Bardem) que se tortura com o íntimo inquisidor. Servirá para alguma coisa aquilo que anda a fazer junto dos 'últimos da terra'?
A personagem de Affleck quase não fala (a não ser em 'off'). Só assim sabemos como a sua paz exterior deve tudo ao temperamento.
O quarteto de gente confusa evolui, no entanto, cercado pela beleza. O título original ('To the wonder') parece indicar um caminho: deixar cair as escamas dos olhos e olhar em volta. O panteísmo encontrou o seu cineasta.
Elias Canetti (1905/1994)
Elias Canetti conta, em "La langue sauvée", que tendo perdido o pai, com sete anos, apenas conseguiu obter da mãe, de ano para ano, mentiras adaptadas à sua idade sobre a causa dessa morte súbita.
Já adulto, e publicado o seu primeiro livro (o que seria prova de plena maturidade aos olhos maternos), é que a mãe se abriu sobre a sua quase traição que terá sido responsável pelo ataque cardíaco fulminante.
Elias tinha encontrado o pai estendido com o jornal aberto na notícia da guerra dos Balcãs (donde a família era originária) e essa fora sempre a insatisfatória explicação para a morte de um homem saudável.
A mãe de Elias, em tratamento no estrangeiro, conhecera uma médico com que gostava muito de conversar sobre literatura e Strindberg, em especial.
O médico chegou a declarar-se, mas o amor ao marido e aos filhos resistiu.
O problema é que o seu orgulho a obrigava a contar toda a verdade, mesmo a da tentação que sentira.
E isso bastou para matar.
Homero
A leitura de passagens do Evangelho na missa tem o melhor auditório que um texto poético pode ter.
O espírito crítico, por um momento, sofre a interdição votada ao orgulho luciferino. As palavras entram pelo coração dentro e parecem ter toda a sabedoria alcançável.
Ao lado delas, a homilia é uma prosa que tropeça miseravelmente ( a não ser em casos inspirados).
Devia ser essa a benevolência que encontrava o antigo aedo, na sua tarefa de manter viva a memória dum povo.
Se pensarmos bem este tipo de escuta também já se perdeu na escola. E não é, claro, apenas um problema de atenção.
"Sentimo-nos estrangeiros neste mundo, desenraizados, no exílio. Também Ulisses, a quem alguns marinheiros haviam transportado durante o sono, ao acordar num país desconhecido, desejava Ítaca com um desejo que lhe dilacerava a alma. De repente, Atena abriu-lhe os olhos e ele percebeu que estava em Ítaca. Da mesma forma, todo o homem que deseja infatigavelmente a sua pátria, que não é distraído do seu desejo nem por Calipso nem pelas Sereias, percebe um dia, repentinamente, que se encontra na sua pátria."
("Espera de Deus")
A nossa casa é o ser (como dizia Heidegger) e todo o homem é estranho a si mesmo e acorda no meio dos perigos.
A tormenta fá-lo aportar a ilhas desconhecidas que o tornam mais saudoso ainda da pátria.
Só depois da viagem sem fim, pelos mares e pelos infernos, o homem pode beijar o chão da sua terra e chegar a casa.
Joyce fez dessas peripécias uma aventura interior.
Simone Weil teve também a sua guerra de Tróia e um surpreendente regresso a uma pátria que não era deste mundo.
Mas Ítaca reencontrada não é um lugar.
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Arthur Schopenauer |
"Se estiverdes confrontados com uma asserção, há um atalho para vos verdes livres dela, ou, de qualquer modo, para lançardes a suspeita sobre ela, colocando-a sob alguma odiosa categoria; mesmo se a ligação for só aparente, ou então de um carácter bastante frouxo. Podeis dizer, por exemplo, 'Isso é Maniqueísmo', ou 'é Arianismo', ou 'Pelagianismo', ou 'Idealismo', ou 'Spinozismo', ou 'Brownianismo', ou 'Naturalismo', 'Espiritualismo', 'Misticismo', e assim por diante. Ao fazerdes uma objecção deste tipo, dais como assente (1) que a asserção em causa é idêntica à, ou pelo menos está contida na categoria citada - quer dizer, exclamais, 'Oh, eu já ouvi isso!'; e (2) que o sistema referido foi já inteiramente refutado, não contendo uma palavra de verdade."
(In “The Essays of Arthur Schopenhauer; the Art of Controversy.”)
Nenhum de nós é isento ao ponto de não recorrer a esta 'arte da controvérsia', especialmente na política. Seria preciso não ter interesse nenhum na questão e ser indiferente às regras da convivência.
Por isso, numa conversa, ou numa disputa de palavras, chega sempre um momento em que as palavras e os actos de um adversário, ou de um terceiro que se encontra, no contexto afectivo da conversa, entregue a um juízo sumário, são por nós colocados 'sob uma categoria', como diz Schopenauer.
Há sistemas, por exemplo, o marxismo, que nos dão a ideia de que já previram, para todo o sempre, todos os argumentos com que possam vir a ser atacados. O sistema, antecipadamente, coloca sob 'uma categoria odiosa' toda a crítica presente e futura. Por esta razão, o profetismo de Marx pôde desarmar o espírito crítico de várias gerações.
Uma entrevista realizada pela BBC, em 1979, confrontava, por um lado, o bispo anglicano de Southwark, Stockwood, e um notório cristão e homem da rádio, Muggeridge, por outro, dois actores dos célebres Monty Python, Cleese e Palin, a propósito da última produção do grupo: "Life of Bryan", que encena, em tom de farsa, as cenas da vida de Cristo que culminam com a crucificação, em que um coro de 'vaudeville' canta "Always look on the bright side of life".
Os argumentos do lado religioso vão todos no sentido de condenar a brincadeira com o sagrado e com temas que não se deveriam prestar à farsa, pelo que significam de real sofrimento, para não falarmos do seu simbolismo para milhões de crentes. Além disso, aponta-se para o efeito corruptor no espírito de um 'jovem de catorze anos' que tomasse conhecimento do 'Deus incarnado' através daquela 'palhaçada'.
Surpreendentemente, os cómicos deixaram-se um pouco intimidar por esses argumentos, e quase só trouxeram em sua defesa a 'liberdade de escolha', como se se estivesse a falar de sabonetes. Cleese invoca o endoutrinamento forçado da sua juventude, esperando, ingenuamente, que as futuras gerações cheguem virgens de qualquer doutrina e - por que não? - de quaisquer princípios à idade de 'escolher em consciência' a sua religião ou o seu ateísmo. Claro que o filme não nos dá qualquer pista sobre as alternativas, porque o que interessa, muito no espírito dos anos setenta, é desmascarar o 'ópio do povo'.
Passados mais de trinta anos, o filme sobrevive melhor do que a defesa e o ataque que concitou na altura da sua estreia. Continua a fazer rir, não por apoucar a religião, mas por causa das inúmeras situações hilariantes que o talentoso grupo britânico soube valorizar.
Não é, evidentemente, estranho a este êxito o facto de se confrontar com um tema muito sério, como é o da crença de muitíssima gente, e com as 'alturas' do reino do sagrado. Estes desníveis sempre foram aproveitados para produzir um efeito semelhante, com, para alguns, uma chocante indiferença quanto ao 'espírito' do que assim se torna tema de comédia.
Se o verdadeiro espírito da religião estivesse assim ao alcance das 'brincadeiras' com a sua letra, não haveria diferença nenhuma entre o sagrado e o profano.
É a incapacidade de compreender esta nuance que regularmente suscita o ódio dos fanáticos contra uma caricatura ou um livro que mortalmente foi ofendido.
"(...) a ciência pensa como uma assembleia, como um tribunal ou uma igreja, e funciona como eles, de maneira que, na realidade, a história das ciências evolui, no pormenor como nas leis de conjunto, como uma repetição da história das religiões ou do direito."
"De mortuis nihil nisi bonum.
Diógenes Laércio
Os mortos deixaram de discutir e de cometer erros. Não se vergam já para o chão sob o peso da idade e na estranheza da morte.
O esquecimento ( como o Letes ) lava-os das últimas imagens que uma câmara indiscreta deles nos deixou.
Apenas o que nos faz viver guardamos deles e é o melhor das suas vidas.
Em certo sentido, subiram ao céu dos deuses Lares, como estátuas de sereno semblante que podemos invocar dentro de nós, a toda a hora.
Como dizia Alain, tudo nesta religião natural é verdadeiro.
E, contudo, não há factos, apenas poesia e sentimento.
"Quando faço desfilar diante de mim os meus professores zuriquenses, o que me impressiona, é sua diversidade, a especificidade dos modos pessoais, a riqueza que neles havia. Muitos deles ensinaram-me o que era suposto me ensinarem; por muito bizarro que isso possa parecer, a gratidão que sinto em relação a eles, cinquenta anos depois, não pára de crescer de ano para ano. Quanto àqueles que pouco me ensinaram, permanecem tão presentes no meu espírito, enquanto homens ou enquanto personagens que devo-lhes muito também."
Elias Canetti ("La Langue sauvée")
Na verdade, é na escola que começamos a conhecer o mundo fora da família e a formar um juízo independente. Os estranhos são-nos tão necessários para a socialização como, por exemplo, a experiência dos objectos para a racionalização do espaço.
Nessa aprendizagem, a identificação, a admiração e o sentimento duma hierarquia natural são as condições ideais.
Na prática, em vez delas, temos muitas vezes o medo, a indiferença ou a revolta.
Talvez por não ter encontrado quem soubesse contornar a minha timidez nunca me foi transmitido o fogo sagrado que tive de descobrir por mim.
Creio que a escola à maioria ensinava sobretudo o comportamento, a disciplina do corpo e da atenção necessários a uma futura vida profissional (modelo que entrou hoje em completa falência).
Mas os que tiveram a sorte de encontrar bons mestres e que estavam abertos para essa ocasião sabem que a relação pessoal é a essência da verdadeira educação.
E esse é o limite que nenhuma revolução tecnológica pode iludir.
Um robot pode informar-nos, mas não fazer de nós homens.