segunda-feira, 20 de maio de 2013

NADA MENOS QUE A VERDADE

 



Elias Canetti (1905/1994)



Elias Canetti conta, em "La langue sauvée", que tendo perdido o pai, com sete anos, apenas conseguiu obter da mãe, de ano para ano, mentiras adaptadas à sua idade sobre a causa dessa morte súbita.

Já adulto, e publicado o seu primeiro livro (o que seria prova de plena maturidade aos olhos maternos), é que a mãe se abriu sobre a sua quase traição que terá sido responsável pelo ataque cardíaco fulminante.

Elias tinha encontrado o pai estendido com o jornal aberto na notícia da guerra dos Balcãs (donde a família era originária) e essa fora sempre a insatisfatória explicação para a morte de um homem saudável.

A mãe de Elias, em tratamento no estrangeiro, conhecera uma médico com que gostava muito de conversar sobre literatura e Strindberg, em especial.

O médico chegou a declarar-se, mas o amor ao marido e aos filhos resistiu.

O problema é que o seu orgulho a obrigava a contar toda a verdade, mesmo a da tentação que sentira.

E isso bastou para matar.

 

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