sexta-feira, 3 de maio de 2013

O PESO DA GRAÇA

 

"Devo dar-lhe a impressão de um orgulho luciferino ao falar assim de tantas coisas que são demasiado elevadas para mim e que não tenho o direito de compreender. A culpa não é minha. Há ideias que se vêm colocar em mim por erro, depois, reconhecendo o seu erro, querem absolutamente sair. Não sei de onde vêm nem o que valem, mas, em todo o caso, não creio ter o direito de impedir esta operação."

Simone Weil ("Espera de Deus")

A graça para Simone Weil actua no mundo como uma força física, que como as outras forças pode ser calculada.

Assim, à força do desejo corresponde uma resposta de Deus do mesmo nível ("porque Ele não dá pedras quando se lhe pede pão"). Uma ideia da justiça como os pratos duma balança cuja função é comparar pesos.

O aparente paradoxo vem de se levar uma ideia até às suas últimas consequências.

Assim como a graça não é um estado mental e existe realmente, transformando-nos fisicamente, a obediência encontra na matéria o seu modelo de perfeição. A vontade própria é algo que se depõe, que se coloca num estado de inércia.

A certa altura, este pensamento levou-a a um estado de espírito próximo da religião dos oráculos, esperando um sinal que sem a sua intervenção por qualquer forma que fosse, para evitar a auto-sugestão, lhe pudesse suscitar o movimento puro.

Destrinçar esta filosofia dum fatalismo intelectualmente elaborado é o mais difícil.

 

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