quinta-feira, 23 de maio de 2013

TURELURE

Antoine de Rivarol

 

" (...) as pessoas da Corte e os nobres, nunca deixaram de ser aos nossos olhos mais do que enfadonhos libertinos, em Paris, ou mendigos de talões vermelhos, em Versalhes."

(Rivarol)

 

O libertino, em princípio, não gosta de Versalhes, nem do papel que aí lhe é destinado. É um 'livre pensador' como alguns gostam de proclamar. Esta multidão de cínicos, com o seu modo de vida escandaloso, fornece a lenha com que vai ser queimada.

A decadência segue sempre mais a natureza do que o carácter dos povos. A Revolução francesa entornou o caldeirão dos vícios e a 'doçura' do Antigo Regime perdeu-se para sempre. O novo discurso tinha de ser dogmático e virtuoso quanto aos costumes. E em pouco tempo, a retórica da violência tomou o lugar das ideias. De novo Rivarol: "O templo da legislaçäo (a Assembleia) transformou-se num mero teatro para a multidão dos oradores retóricos, numa tempestuosa arena, onde a audácia e a violência triunfaram da fraqueza e da timidez."

Os inimigos da vaidade e da libertinagem puseram-se à frente do movimento social para, como um novo clero de toga, imporem a sua deusa da Razão, prenunciadora da moderna razão de estado.

O barão de Turelure, em 'L'Otage' de Claudel, é o novo homem que emerge da 'discussão' com palavras assassinas. O burguês sem fé, a não ser nos 'valores seguros'. A imagem mesmo dos nossos banqueiros.

 

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