quarta-feira, 8 de maio de 2013

A TRANSCENDÊNCIA DE PI

Carl Louis Ferdinand von Lindemann

"Um matemático nazi, tendo-se apercebido que o autor da demonstração que estabeleceu a transcendência de Pi era um judeu (tratava-se de Lindemann), concluiu que a capitulação diante do problema da quadratura do círculo era característica do estado de espírito cobarde e frouxo da época judeoliberal."

(Carta de Simone Weil a Alain)

Haverá limites para a credulidade 'validada' pela paixão política? Não podemos, é claro, pôr de parte a subserviência dos espíritos diante da força que, contudo, por ter de ser hipócrita, sabe normalmente evitar o ridículo em que incorreu aquele matemático nazi.

Podia facilmente encontrar-se uma analogia entre esse ridículo e o contínuo falhanço das previsões económicas do nosso ministro das finanças. O nosso azar é que ele acredita que vai resolver a 'quadratura do círculo' e que os que lhe apontam o resultado catastrófico da sua política têm, de facto, um problema de vontade e de determinação. Se houvesse menos 'cobardia' e 'moleza democrática' entre os portugueses, se a tecnocracia pudesse imperar sem os obstáculos constitucionais e a pressão cega da opinião pública, outro 'galo cantaria'.

Tudo leva a crer que não teremos a sorte de ver este sábio das finanças desautorizado pelo governo, como aconteceu com a luminária do nazismo. Simone Weil prossegue na sua história edificante:

"O III Reich, pela sua parte ia deitar mão à obra. Desta bela tentativa saiu um novo ramo da matemática, a 'músico-matemática' que tornaria impossível a quadratura do círculo. O autor, cheio de orgulho, quis, não obstante, para maior certeza, submeter a sua descoberta a Hilbert, o decano das matemáticas alemãs. Hilbert, pouco interessado em experimentar as alegrias dos campos de concentração, respondeu: "Se a ciência progride desta maneira no III Reich, não encontrará nunca qualquer obstáculo!" Alegria do ingénuo matemático nazi, desprovido, como os seus semelhantes, de todo o sentido de humor. Estava ele a ponto de tornar pública a sua descoberta, com grande estrondo, quando, infelizmente para a beleza da história, uma ordem do ministério da educação pública parou tudo no último momento."

 

 

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