domingo, 16 de abril de 2006

A UTOPIA DA PAREDE BRANCA



Parece que a comunicação social se começa a preocupar com o aspecto da cidade, que não é só boas ou más ideias urbanísticas, mas é também a forma como (nel)a vivemos.

Li dois artigos quase seguidos, um sobre Lisboa e outro sobre o Porto, em que se chama a atenção para o grafito selvagem e para essa outra espécie de expressão alógica, conhecida por "tag", que não poupa paredes, nem património.

A proliferação deste fenómeno só tem encontrado, até aqui, resignação e conformismo por parte da população, e uma incompreensível passividade por parte das autoridades.

"(...)Quem iniciar o primeiro dos cinco percursos incluídos no programa dos Caminhos do Romântico, que abrange toda a zona do Palácio de Cristal, Quinta da Macieirinha e Casa Tait, facilmente se escandaliza com a pouca ruralidade que sobrou. Não há um único metro de parede sem spray, as paisagens são pintadas ao detalhe e as cores atropelam-se sem critério definido. O Porto rural, a que o projecto de requalificação pretendia levar os visitantes através de um passeio pelas estreitas ruelas seculares, desapareceu por debaixo de uma densa maquilhagem de tinta(...)." (Estela Ataíde no "Público" de hoje)

A indignação só, claro que não resulta perante este vandalismo, por estudar nos seus contornos e nas suas motivações. Decerto que a vertigem do risco e da transgressão deve ser mínima, já que são raríssimos os protestos e é nenhuma a vigilância e a punição.

Mas esta forma de publicidade negra terá a sua economia, os seus objectivos e o seu público-alvo. Por outro lado, ao contrário do grafito com pretensões artísticas e que podia ser desviado para locais reservados, o "tag" parece ser apenas destrutivo. Compreender isto é um trabalho de antrópologo, sem deixar de ser um caso de polícia.

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