quarta-feira, 28 de setembro de 2016

ÁJAX



Albert Einstein era claro quanto a uma responsabilidade colectiva do povo alemão pelos crimes do nacional-socialismo. Em carta a James Frank, em 1945, dizia que a presença de alguns 'melros brancos' não devia atenuar esta condenação.

Não sabemos até que ponto a filosofia alemã em geral e o hegelianismo em particular não estão por detrás, mesmo num homem como Einstein, desta noção de um sujeito da história e de uma responsabilidade colectiva cuja incarnação o autor da Fenomenologia via no Estado alemão do seu tempo. Mas o seu famoso 'Espírito' parece bem limitado, quando se olha para a monstruosa prole da segunda guerra mundial.

A questão da 'responsabilidade colectiva' está cheia de ambiguidades e é até insolúvel quanto a mim. Mesmo no caso de uma democracia, de haver um voto explícito num líder ou num regime (sabemos que Hitler chegou ao poder através de eleições, embora, numa atmosfera política muito condicionada pelos métodos e pela propaganda do extremismo político), só por irracionalismo consensual se pode dizer que a escolha foi livre e consciente das consequências.

E, no entanto, temos de 'postular' algum género de responsabilidade colectiva, para que o sistema seja credível.

Verdadeiramente, a situação do herói que se castiga a si mesmo, 'perturbado pelo deus hostil', tão característica do teatro grego, ainda esclarece melhor do que o pseudo conhecimento do futuro e das consequências da nossa acção a questão da responsabilidade colectiva.

É assim que Ájax, o herói de Salamis, provoca uma chacina nos rebanhos gregos, julgando lutar pela vida...

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