domingo, 21 de agosto de 2016

OS ÍNDIOS DE FELLINI

Federico Fellini

Em "Entrevista" (1987), Fellini volta ao tema de "Otto e mezzo", filmando o fazer do cinema, a pretexto de contar as suas memórias sobre a Cinecittà.

O mesmo silêncio encantado, a presença do vento, o artifício do teatro e do circo, a galeria de monstros. O mundo do cineasta é povoado de tipos inconfundíveis. Anões e mulheres-gigantes. Convenceram uma de grande busto de que tinha o tipo felliniano, por isso ela aparece na audição. 

E, inesperadamente, nesta evocação sentimental que acaba numa paródia do western contra a televisão, com antenas em vez de flechas, a visita ao ícone de "La dolce vita", à mais felliniana das actrizes.

O reencontro do mítico par da Fontana di Trevi é potencialmente destrutivo.

Cerca de trinta anos depois, a realidade disforme debate-se como um pássaro ferido contra o ecrã.

Mastroiani, maquilhado como o Aschenbach no Lido de Visconti, é uma sombra repetindo um papel que foi o seu no mundo dos vivos e uma Anita enorme e porosa, na sua mansão guardada por molossos, deixa aparecer uma lágrima.

Esta confrontação da memória com o presente é como o contra-método do seu estilo. Um Fellini, cedendo ao pessimismo, diz-nos que sabe muito bem que não é o sonho que comanda a vida.

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