quinta-feira, 4 de agosto de 2016

INQUIETAÇÃO


(Santo Agostinho)

"Nenhum homem está provido de tanta justiça que não lhe seja necessária a tentação da inquietação (tentatio tribulationis: que o homem se converta num problema para si mesmo).
(Santo Agostinho)

A 'dúvida metódica' foi, talvez, uma resposta a esse problema. Porque a justiça dos que estão 'mais providos dela' e de todos os outros justos, está assegurada contra a inquietação. O método convida-nos a expurgar os nossos juízos de todo o erro das paixões, bem como os da própria razão.

Descartes não nos salvou da tentação agostiniana. Mas deixou-nos o legado de uma razão autocrítica que estabeleceu os fundamentos da ciência moderna.

Mas a inquietação persiste, e damo-nos conta de que nem a crítica mais severa nos salva do extravio. De tempos a tempos, um filósofo aparece que pretende iluminar as origens, antes da razão ter feito o seu 'coup d'état'. Heidegger foi o último a fazer da poesia o verdadeiro começo.

Cada homem, diz a tradição religiosa e filosófica, tem um sentimento inato da justiça, que não é a justiça dos tribunais nem a divisa da Revolução Francesa e das outras que se seguiram. 

Todas as instituições (que já foram revolucionárias um tempo), nos querem 'libertar' da inquietação de que fala o santo, para o bem de todos.

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