quarta-feira, 25 de maio de 2016

O NOSSO SELVAGEM


'Guide du bon sauvage'


"As tribos índias, as paisagens que o jovem Lévi-Strauss descobriu, não eram edénicas, nem 'primitivas' no sentido preciso da palavra. Encarnavam uma longa crónica de infecção, devastação ecológica e deslocação forçada."
(George Steiner)

O olhar do antropólogo, aqui, não procura descobrir a diferença, mas, talvez, o palimpsesto. Por detrás do fácil exotismo, tece-se a malha de todo o empreendimento humano.

Como a personagem da primeira versão de "Planet of the Apes", que no fim da sua aventura encontra a estátua da Liberdade meio-enterrada numa praia, é no fim da civilização que faz pensar o encontro do antropólogo com as tribos moribundas da Amazónia.

George Steiner cita: "A 'antropologia', diz L-S na conclusão de 'Tristes Tropiques', pode hoje ser considerada uma "entropologia": o estudo do homem passou a ser o estudo da desintegração e da extinção certas."

À medida que a 'sociedade de risco mundial' nos vai confrontando com as consequências dos nossos mais ofuscantes sucessos e a nossa não percepcionada irresponsabilidade (Ulrich Beck), vamo-nos metendo na pele dos trágicos dos últimos dias. 

O capitalismo (se serve para alguma coisa referirmo-nos assim ao sistema mundial) promete-nos o mais espectacular dos 'finales'.

Steiner afirma que a linguagem 'flexível e lúcida' de um Voltaire ou de um Rousseau 'são uma salvaguarda contra as brutalidades e as mentiras da cultura de massas.' Ao vermos como por cá se trata a 'pátria' do nosso grande poeta, só podemos ver nisso os estigmas de uma corrupção 'inevitável'.


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