segunda-feira, 30 de maio de 2016

CONSENSOS

(José Cutileiro sobre Margareth Thachter)

"Achava que se os apóstolos tivessem saído à rua a pedir consenso a gente nem teria sabido que houvera uma coisa chamada cristianismo."
(Margareth Thatcher, citada por José Cutileiro) 
Por que é que um princípio que é válido para a ciência não pode ser aplicado aqui. Entenda-se que o 'consenso' da comunidade científica nunca pode ser definitivo. A opinião favorável dos 'pares' faz parte da justificação de uma ideia nova. Foi assim que a teoria da relatividade convenceu o mundo, mas o próprio Einstein previu que a sua teoria seria ultrapassada.

Essa 'caducidade' que atinge todo o 'corpus' científico vem do historicismo hegeliano, em que a ideia do progresso impõe um desenvolvimento dialéctico que se vai 'superando' a si mesmo. Hegel dizia que o que falta à Lógica é a Natureza, e, de facto a dialéctica prescinde dela, olimpicamente. O filósofo tinha, pois, consciência da dificuldade de integrar o mundo incontrolável e quase caótico da natureza no mundo perfeito das leis do pensamento. Daí que a história se tivesse tornado lógica.

Daí, também, a necessidade de um acordo inter-subjectivo para estabelecer a plataforma científica.

Por outro lado, a Dama de Ferro invoca o Cristo da espada, o que expulsa os vendilhões do templo, contra o Cristo do 'amai-vos uns aos outros'. Porque seria o tempo próprio para isso, o tempo da mudança, na versão do Eclesiastes.

O tempo do consenso é frequentemente interpretado como o tempo de uma paz pôdre, que prepara um futuro de crise e de divisões insanáveis.

O político pode, assim, sentir-se justificado moralmente para 'agitar as águas do pântano'. É a moral política que falta ao cientista para 'desenganar' as pessoas de um consenso de especialistas.

0 comentários: