quarta-feira, 18 de maio de 2016

DESTINOS




(In defence of Heidegger | Prospect Magazine)



"Ele (Foucault) tinha de facto mostrado que mesmo o conceito da história do ser não sai do círculo da terceira auto-tematização do sujeito auto-referencial, isto é, da sua tentativa de dominar uma origem que cada vez se afasta mais."

"O Discurso Filosófico da Modernidade" (Jürgen Habermas)

Se a origem não for 'estabelecida' por um acto de fé inter-subjectiva, qualquer tentativa de ir para além do círculo da 'auto-referencialidade' (só podemos pensar o humano, humanamente) é narcótica e exposta à Crítica de qualquer descendente de Kant.

Mas se admitimos que não sabemos do que estamos a falar depois de sujeitarmos o edifício do conhecimento a uma 'vistoria' e avaliamos a solidez dos seus fundamentos, como deveríamos classificar os incessantes êxitos da tecnologia e da ciência que, precisamente, se baseiam naquele conhecimento?

Podemos não saber e ao mesmo tempo sermos eficazes de um ponto de vista técnico ou, de uma certa maneira, ciêntifico (porque, como dizia Engels, a melhor prova da existência de um pudim é comê-lo)?

O reconhecimento da nossa impossibilidade de alcançar a origem, de saber o que somos, faz de todos nós criaturas sem criador nem destino, condenadas a inventar-se um papel, como as personagens de Pirandello.

É, talvez, o sentido da defesa de Heidegger a propósito da sua hipnose hitleriana. Em "Da Essência da Verdade" (1943) escreveu:

"O extravio é a morada aberta do erro. O erro não são falhas isoladas, mas sim o reino (a dominação) da história daquelas ciladas, entretecidas em si mesmas, de todos os modos do extraviar-se."

Como diz Habermas: "A viragem é de facto o resultado da experiência com o nacional-socialismo, portanto da experiência com um acontecimento histórico que em certa medida 'aconteceu' a Heidegger."

Podíamos generalizar: 'o mundo acontece-nos', e mais ainda aquilo que inventamos e que é fruto de um 'certo conhecimento'...



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