sexta-feira, 6 de maio de 2016

O HERÓI AMORAL

(André Gide)



"Gide não se confronta consigo próprio, sucede-se a si mesmo."

(Jean Prévost)

Ninguém pode fazer 'tabula rasa' do seu passado, como quem instala um novo O.S.. E depois há aquele célebre dito psicanalítico do recalcado expulso pela porta e que volta a entrar pela janela.

O confronto entre os princípios e o comportamento pode tornar-se um protocolo que mantém indefinidamente a contradição. E se esta é insolúvel, é como um 'espinho na carne' vivificante (outros dirão simplesmente neurótico).

É este confronto que falta ao autor das 'Nourritures', segundo o seu crítico? Digamos então que Gide convive com o seu 'impasse' sem má-consciência. O que não o faz suceder-se a si mesmo. Não há recomeço. Ele parece viver de acordo com a ideia de que a vida é gratuita e sem dilemas morais, como o Lafcadio de 'As caves do Vaticano': "E, sobretudo, há o jovem Lafcadio o qual, prisioneiro da sua mística do acto gratuito, com a mesma indiferença salva num dia a vida de uma criança e, num outro, mata o pobre Amédée Fleurissoire, sem qualquer motivo." (Wikipedia).

Mas são, talvez, os dilemas estéticos que melhor explicam a sua vida.


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