domingo, 29 de novembro de 2015

O CAPACETE


http://g01.a.alicdn.com/kf/HTB1sBVfJFXXXXXNXXXXq6xXFXXXS/High-quality-blue-color-LED-font-b-robot-b-font-font-b-helmet-b-font-for.jpg


"(...) a ciência pensa como uma assembleia, como um tribunal ou uma igreja, e funciona como eles, de maneira que, na realidade, a história das ciências evolui, no pormenor como nas leis de conjunto, como uma repetição da história das religiões ou do direito."
(Michel Serres)

"(...) visto que a tradição nos impõe que apenas existe objecto de conhecimento para um sujeito individual e que o colectivo não pode conhecer objectivamente, pois o seu único objecto são as suas relações." (idem)

Apesar de se dizer que 200 cabeças pensam melhor do que uma só cabeça, a verdade é que uma assembleia não pensa, embora geralmente possa decidir, segundo certas regras e na base de ideias pensadas individualmente. Simone Weil dizia que um colectivo nem sequer consegue fazer uma conta de somar.

A pertinência daquele adágio está nisto: que 200 cabeças, pensando por si, dão melhor conta do interesse colectivo do que uma cabeça 'iluminada'. Quando se entra numa assembleia, o colectivo é uma espécie de capacete que condiciona o pensamento. Isto é ainda mais verdadeiro em relação aos partidos.

Mas o filósofo diz, na epígrafe, que a ciência 'pensa' como uma assembleia. E uma das saídas deste paradoxo é considerar a assembleia como o momento da decisão. A 'reflexão', neste caso, é pura retórica, visto que os partidos já reflectiram no local próprio, antes da assembleia. Um congresso é o estado mais depurado deste ritual. A história destas decisões é que poderia ser tomada como a história do pensamento objectivado quer do órgão político, quer do direito quer mesmo das ciências.

0 comentários: