sexta-feira, 6 de novembro de 2015

AS BOAS INTENÇÕES




"O grande canal de entrada da opressão no mundo é um homem pretender determinar a felicidade de outro."
(Edmund Burke)

Mais um exemplo da capacidade da virtude de fazer o mal. Porque não há dúvida que o preceito cristão de 'amar o próximo como a si mesmo' pode naturalmente inspirar a tentativa de fazer a felicidade do outro. O melhor seria que o 'beneficiado' nada soubesse do seu benfeitor (todos preferimos que um benefício inesperado seja atribuído à sorte). Mas não acontece que tantas vezes nós próprios não sabemos o que nos convém, a felicidade que coroaria um pequeno gesto de intrepidez, ou de loucura? Porque, sabemo-lo bem, a razão é dada ao 'sono dogmático'. Poupa-se um novo esforço quando as coisas parecem iguais, mesmo quando são diferentes...

Porém, Burke, que escreveu contra a Revolução Francesa, acha que esse é o caminho mais fácil para a opressão. As grandes palavras aplanam o caminho do opressor porque lhe conquistam adeptos. Muitos, no seu entusiasmo, abraçaram o tríptico das virtudes republicanas, entusiasmo que no fundo não é muito diferente do 'amai-vos uns aos outros'.

E tudo falha? Tudo acaba no inferno das 'boas intenções'? E, se é assim, seria melhor apostar no vício, ou nos 'hábitos do consumidor' como faz o mercado? Adoptar, talvez, outras virtudes, aquelas que são mais apropriadas a quem não sabe o que é o homem e o que é a felicidade do outro?

Mas serão virtudes de velho. Quem erra, quem arrisca a opressão e outros males, jogando ao 'aprendiz de feiticeiro', é tão necessário ao mundo como o sábio na sua montanha e a abençoada multidão do bom senso e da prudência. Fazem também parte desta desarmonia os que não querem saber da felicidade dos outros para nada.



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