quarta-feira, 20 de maio de 2015

TENSÃO

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"Diga ao Fernando Pessoa que não tenha razão ("Álvaro de Campos escreve à 'Contemporânea'); Porque só há duas maneiras de ter razão. Uma é calar-se, que é o que convém aos novos. A outra é contradizer-se, mas só alguém de mais idade a pode cometer."

(De uma crónica de Bénard da Costa.)


A distinção pascaliana entre o espírito de gentileza (finesse) e o espírito geométrico transparece nas palavras do 'engenheiro naval'. Porque há uma razão igual a si mesma, sem nada de 'mortal', porque não pertence à vida, e é verdadeiramente 'divina'. Um jovem dotado tem pleno acesso a este mundo 'mental', ou racional se preferirem. Quantos anos tinha o Einstein da teoria mais famosa do nosso tempo? Mas não foi esse o homem que perseguiu o resto da vida a 'teoria de Tudo' (um dos nomes de Deus) e que encontrava a paz no mundo da música.

Dizer como o conhecido heterónomo, que a razão não pode ser invocada sem contradição, não é dizer outra coisa que isto: fora da abstracção, só podemos 'ter razão' contra nós próprios, porque as 'coordenadas' e o contexto mudam a todo o tempo. É preciso esquecer 'sistematicamente' para não sentirmos a contradição. Para além disso, a razão está prisioneira da atenção, a qual se concentra, por sua vez, num foco em grande parte aleatório.

A razão fina, intuitiva, ou do coração, como também se diz, não é, naturalmente, 'demonstrável'. Pertence ao 'mundo mágico' ou místico de que fala Chesterton. Aí, pode-se estar certo sem ter a certeza. 'Ter razão' e, ao mesmo tempo estar em contradição. Manter as duas ideias e a tensão entre elas, talvez seja, até certo ponto, um problema de idade.

 

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