sexta-feira, 1 de maio de 2015

O SEXO DOS ROBOTS


"EX-MACHINA"


"A paternidade artística é tão inteira quanto a paternidade física. Além disso, vale a pena assinalar que quando um poeta é realmente mórbido isso se deve normalmente a algum ponto fraco de racionalidade no seu cérebro. Poe, por exemplo, era realmente mórbido; não porque fosse poético, mas por ser especialmente analítico."

"Orthodoxy" (G.K. Chesterton)

Na sua polémica contra Sainte-Beuve, Proust moveu-se no outro sentido. A obra seria independente da personalidade do artista. Claro que existe um tipo de coerência, e de lógica interna que são 'independentes' da pessoa do autor. Não tira que a morbidez, como lhe chama GKF, na poesia de Poe, provenha  da sua idiosincrasia e seja uma característica importante do seu estilo.

Há dias, vi um filme de ficção científica bastante interessante: "Ex-Machina", de Alex Garland. O criador de uma mulher-robot chamada Ava explica ao visitante que vai tentar aplicar o teste de Touring à nova máquina (e ser ao mesmo tempo testado, sem saber, contudo, até que ponto) porque teve de introduzir a sexualidade na mulher artificial. Depois de declarar que, sem a sexualidade, no sentido lato, os primeiros humanos não teriam qualquer motivo para se aproximarem uns dos outros, serve-se do exemplo de Pollock, o pintor americano que tentou fazer do automatismo um estilo próprio. E, também aqui, o artista chegaria rapidamente ao impasse se não obedecesse a impulsos que nada têm a ver com a racionalidade. Que razão teria para iniciar o primeiro gesto que contrariasse o caos aparente do acaso?

De facto, Pollock estaria na situação de Ulrich, 'o homem sem qualidades': extremamente inteligente e dotado de uma notável capacidade crítica, mas, como que paralisado e incapaz de fazer a mínima escolha (porque nenhuma opção o envolveria realmente).

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