quinta-feira, 5 de março de 2015

O HOMEM DE DINHEIRO

Do filme de Robert Bresson

 

"De qualquer modo a indignação, mesmo justificada, continua a ser um movimento da alma demasiado suspeito para que um padre a ela se abandone. E sinto também que há sempre qualquer coisa na minha cólera quando me forçam a falar do rico - do verdadeiro rico, do rico em espírito - o único rico, tenha ele no bolso não mais do que um cêntimo - o homem de dinheiro, como eles lhe chamam...Um homem de dinheiro!"

"Le journal d'un curé de campagne" (Georges Bernanos)

 

Por oposição, o pobre 'em espírito' merece o reino dos Céus. A separação entre o mundo de César e o mundo de Deus dá o verdadeiro sentido a ambas as fórmulas. Mas também se diz que é mais fácil a um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que a um rico entrar no reino dos Céus. É a lição do 'bom-senso' que se alia aqui ao materialismo mais rudimentar, que a 'riqueza' não é um simples estado de espírito...

O homem mais rico do mundo, Bill Gates, não seria um verdadeiro rico dado o seu interesse pela causa himanitária. É como se se servisse da sua posição no mundo de César para se comportar como um 'pobre em espírito' . Tem tudo o que o dinheiro lhe pode dar, mas isso não parece suficiente. Como devemos julgar, então, um 'verdadeiro rico' que, depois da sua morte, fizesse uma carreira de humanitário, através, por exemplo, de uma fundação?

O padre rural de Bernanos sabe que não lhe compete julgar e suspeita da sua indignação que já pressupõe um juízo. Mas como viver 'descarnado' e não sentir nas palavras e nos modos a arrogância do 'homem de dinheiro'?

 

 

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