quarta-feira, 11 de março de 2015

O ESPÍRITO CORROMPIDO



"Stairways" (Mc Escher)

"Ele já não tinha necessidade de possuir talento para persuadir a multidão; isso era da competência do próprio espírito corrompido da época."

"Ordens Menores" (Agustina Bessa-Luís)


Aliás, o 'espírito corrompido' (que é o que já não sente a sua própria necessidade) recusa cada vez mais os talentos do púlpito. Já não existem grupos ou facções que se inspirem nos desencontros da ágora. O relativismo parece a verdade definitiva e matou as convicções fortes que hoje se confundem com o fanatismo. Um infortúnio de ordem histórica quis que o nome da teoria científica mais prestigiada da nossa época se chamasse relatividade.

O tudo é relativo é tão óbvio que não quer mesmo dizer nada. Ao mesmo tempo que nos eximimos à antiga 'busca da verdade' sob o signo do relativismo, admiramos aqueles que se conservam durante toda a vida fiéis a uma ideia.

Claro que a corrupção do espírito é um fenómeno de todos os tempos. Porque além das coisas mudarem conforme a sua posição e a sua relação com todas as outras coisas, o tempo não deixa ninguém ficar igual a si próprio. As ideias perdem o vigor como os nossos músculos, e nenhum homem pode dizer que adquiriu uma verdade. O nosso modo de estarmos certos de qualquer coisa envelhece connosco. A um certo ponto o que surge é o juramento feito alguns anos atrás...

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