segunda-feira, 2 de março de 2015

EXÍLIO

 

"Qual é a desgraça do exílio? "Uma desgraça muito grande", segundo Polynice: "Não ter liberdade de palavra (parrhēsía)." E a sua mãe Jocasta acrescenta:"É próprio de um servo não dizer o que pensa."


(Roberto Calasso)

 

Na origem da democracia, na sociedade ateniense, a palavra é a medida da liberdade no espaço público. Acredita-se que a 'verdade' e a boa política não são o monopólio de nenhum 'especialista' (contra o aristocrático Platão). Que o debate de uns com os outros e o do 'dois em um' (o do indivíduo consigo mesmo) são essenciais à causa comum.

Em contraste com isto, no espaço privado, o domínio de um sobre toda a sua 'casa', nela incluídos a família e os servos, é a norma. Nesta esfera, só o senhor tem o direito à palavra. O escravo, como diz Jocasta, deve guardar para si o que pensa, que não chega a ser palavra e se assemelha à contumácia e ao espírito reivindicativo.

Nestas condições se descreve o contrário da política, onde os iguais só têm um modo de chegar a acordo quanto a qualquer decisão que interesse à cidade. O livre debate, que rapidamente conduz às armas da retórica e da eloquência e ao predomínio da lógica forense.

No "Júlio César" shakespeareano já aparecem os 'homens magros' que conspiram e guardam para si o que realmente pensam. Aos sinais da próxima ditadura que Brutus e Cássio vêem em César, sucederá o cesarismo, de facto.

 

 

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